A evolução dos computadores pessoais possibilitou uma verdadeira revolução nos meios de se gravar com qualidade um trabalho musical.
Há coisa de uns vinte anos atrás, os custos para se alugar um estúdio de gravação eram, de forma geral, proibitivos para um artista ou banda que estava começando. Só as gravadoras tinham cacife para arcar com esses custos.
O que os artistas tinham acesso eram, por ordem cronológica:
gravadores cassete 4 pistas (Tascam, Fostex, Yamaha…)
gravadores de rolo multipista (Fostex e Tascam)
ADAT (gravador digital fabricado pela Alesis de oito pistas – fita)
Desses aí de cima eu só não tive o ADAT, depois do rolo 8 pistas, comecei a me aventurar nas gravações em PC.
Em minhas primeiras gravações eu usei dois programas sincronizados, o Sawplus (para o audio) e o Cakewalk (para o Midi). Soa complicado e era mesmo, eu tinha que ligar um cabo midi por fora conectando a placa de sinc à entrada midi. Mas, por mais estranho que pareça, funcionava!
Porém o áudio distorcia com muita facilidade e eu tinha que gravar sempre num nível mais baixo para evitar o problema. A qualidade de som dos instrumentos midi também comprometia o resultado. Mas, mesmo assim, era uma ferramenta excelente para fazer e testar arranjos. Uma das grandes vantagens do sistema é que você pode adicionar quantas faixas julgar necessário para gravar quantos instrumentos quiser, limitado apenas pela capacidade de processamento e memória da máquina. Só isso já é uma enorme vantagem em relação aos quatro ou oito pistas de fita anteriores.
Dos anos 90 para cá o hardware dos PC´s aumentou sua performance exponencialmente. E, além disso, seu preço também caiu. No lado dos softwares também foi feito muito progresso com o desenvolvimento de programas para esse nicho como o Sonar, Pro-tools, Logic, etc O Sonar é uma evolução direta do Cakewalk.
Eu sou adepto da máxima: “o melhor programa é aquele que você sabe fazer funcionar”. Porque, para mim, o tempo que se perde para aprender a mexer em um novo programa é tempo criativo que está sendo desperdiçado.
As gravações do meu primeiro disco Carlos Café& Os Mestres do Blues e do Bagagem Código Blues foram 90% feitas no Sonar. As baterias que foram gravadas nos estúdios do Guto Goffi e do Fabio Brasil foram feitas no Logic e no Pro-tools, mas toda a edição, gravação de guitarras, baixo, voz e todos os outros instrumentos foram realizadas no Sonar.
Para gravar em multipista, normalmente se começa pela bateria e depois vão-se adicionando os outros instrumentos. Para o baterista gravar com o sentido correto da música, os outros músicos tocam junto com o baterista. Essas gravações de apoio se chamam guias., que, posteriormente, vão ser apagadas e substituídas pelas gravações finais desses instrumentos. Foi assim que eu gravei o “Mestres”. Ensaiamos um pouco com o Guto e gravamos as baterias e as guias no seu estúdio.
Para o Bagagem, gravei três faixas usando essa mesma técnica com o Gil Eduardo, no meu estúdio, com eu e Pedro Peres fazendo as guias. Mas a limitação do espaço físico daqui tornou o processo bem complicado. Mas como as três faixas eram músicas que já tocávamos ao vivo há algum tempo, acabou dando certo.
Mas quando eu convidei o Fabinho (Fabio Brasil – Detonautas) a abordagem teria que ser diferente porque não teríamos tempo para ensaiar as músicas.
Fiz um bom “rascunho” das músicas, já com os arranjos e dinâmicas e levadas definidas, solos e voz já no formato final, enfim, tudo para induzir a percepção imediata da proposta da música que seria gravada “na hora”. Trabalhei uns dois meses nessa etapa de preparação dos arranjos. Alguns dos solos que estão na versão final das músicas foram feitos nessa etapa.
Depois eu contei com a sensibilidade e precisão do Fabinho e também com a minha regência narrando antecipadamente que parte da música viria a seguir. O esquema funcionou.
As bateras estão com um belo feeling e com boa sonoridade.
Depois vou contar uma história engraçada dessas sessões.